Uma das questões com que temos sido bombardeados por estes dias, é a tolerância de ponto concedida aos funcionários públicos na tarde de quinta-feira.
Primeiramente, esta não é nenhuma novidade. Sendo correcto ou não, sempre se concedeu este privilégio. Ou seja, não transformem isto em algo novo que apareceu no pior momento.
Ouvi os representantes dos vários partidos assim como do Governo. Os que não estão no Governo não se demonstrem super constrangidos e em desacordo com esta decisão, porque, como já referi, ela sempre foi tomada e quando vocês lá estiveram representados ou noutros anos, nunca se queixaram.
Actualmente existem comentadores televisivos para tudo. Esta questão não poderia ser excepção.
Num programa na RTPN na quinta-feira à tarde, com a participação directa dos telespectadores (via telefone ou e-mail), ouvi um funcionário público alegar que o mais grave de tudo isto é que nos locais em que se concedeu tolerância as pessoas são obrigadas a irem para casa. Se quiserem, não podem ficar a trabalhar.
Foi aqui que perdi a minha paciência. Não me tentem fazer de parva, nem a mim nem às restantes pessoas. Querem lá ver agora que eu acredito que em alguns locais existiam diligentes funcionários públicos que ficaram extremamente aborrecidos por não trabalharem à tarde??
Usufruo de imensos serviços públicos, desde hospitais, faculdade, câmara municipal, bibliotecas, transportes públicos etc etc. Peço imensa desculpa se estou a generalizar ou se são por coincidência a maior parte, maus serviços, mas são poucos os funcionários que são competentes. Em 5 há 1 ou no máximo 2.
Desde faltas de respeito, mau atendimento, fraca prestação de serviços, pura e simples malandrice, sou mal atendida e servida.
Resumindo, em todos estes locais, não imagino nenhum funcionário a querer passar a tarde a trabalhar.
Se o quisessem deveriam fazê-lo durante todo o ano, quando fazem pouco ou nada.
Sei que é injusto para funcionários competentes esta minha crítica, porém os primeiros são em reduzido número logo se vamos a um serviço e somos extremamente mal atendidos, é natural que generalizemos desta forma.
Certos locais optaram por não conceder tolerância de ponto, câmaras municipais e afins, sei também, por conhecimento próprio que sempre o tinham feito ao longo dos anos (o presidente é o mesmo) sei também que o dinheiro que pouparam (ou não) neste dia é sempre gasto de outras formas absurdas, desde jantares para os funcionários etc etc.
O que quero dizer com tudo isto é que as pessoas em geral não se devem "armar" em "santas trabalhadoras" só porque andam descontentes com o país, quando nunca o foram.
Outra das opiniões que ouvi no referido programa é que além desta tarde se vão perder muitos mais dias. Isto porque, dizia um senhor, "Na quinta-feira de manhã já andam a pensar onde vão almoçar e a olhar para o relógio para ver quando o está na hora de irem embora. Na terça ou na quarta quando começarem a trabalhar vão estar metade do dia a falarem de como foi a Páscoa de cada um e o restante a olharem para o relógio para o dia terminar".
Poupem-me, mais uma vez a minha paciência. Desde quando é que, se isso não interferir no trabalho, eu não posso pensar onde vou almoçar ou quanto tempo falta para o meu dia terminar?? Os alunos estão nas aulas impacientes para que estas acabem e olham para o relógio vezes sem conta. Mesmo as pessoas que têm a melhor profissão do mundo, estão desejosas que o dia de trabalho acabe. Claro que isto só deve acontecer se a produtividade não for afectada, não posso parar o que estou a fazer só para pensar nestas questões.
Não obstante, o trabalho é um sacrifício, sempre foi assim encarado. Pode ser interessante, podemos estar a trabalhar na área que mais queríamos que vamos estar sempre desejosos que o dia termine e que cheguem as férias.
Questão principal no meio disto tudo, estamos em plena avaliação pelo FMI da nossa situação económica, estamos a tentar pedir dinheiro de "mão estendida" por estarmos de corda ao pescoço...quando alguém vai pedir um empréstimo ao banco, marca uma entrevista com o gerente, convêm que chegue a horas, que tenha uma imagem cuidada, em suma, que "pareça bem" para que lhe dê o crédito.
É nesse ponto que reside o nosso problema, se queremos ajuda, deveríamos mostrar algum cuidado, competência, rigor, trabalho e produtividade. Estes senhores (que espero que nos vão realmente ajudar), deveriam pensar, a meu ver assim "Portugal tem-se demonstrado um país competente e dedicado em ajudar a conseguir o que pretende. Era tradição a tolerância de ponto na quinta-feira à tarde, e este ano, pela crise e pelas dificuldades, não o fez".
Era exactamente isto que deveríamos ter feito e não esta imagem de malandrões que passamos sempre.
Mais grave que tudo isto, neste mesmo programa fiquei a saber que na quarta-feira o senhor ministro das finanças atreveu-se a chegar 30 minutos atrasado a uma reunião com os senhores do FMI. Para mim, isto incomoda-me muito mais do que a tolerância de ponto. Então mas este incompetente, um dos vários responsáveis por esta crise, dá-se a esta falta de respeito? Onde está o exemplo de competência e rigor? Não deveria agora que estamos nesta situação ser o mais diligente possível para a resolver? Vergonhoso.
Em suma, ontem era escusada aquela tarde sendo que hoje é feriado e na segunda-feira também, mas era escusada não por demagogias de um lado e de outro mas porque temos de ser correctos numa situação como aquela que nos encontramos. É o mínimo que podemos fazer, já que nas nossas mãos não está o controlo das finanças deste Portugal.
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